Esta é a época de harmonia, paz e família! Ou deveria ser, mas quando temos crianças pequenas, pode tornar-se numa das épocas mais stressantes do ano!
Sabemos que é muito difícil não sermos influenciados pelas imagens perfeitas em todos os lugares, desde revistas a Instagram e Pinterest, onde se vêem casas fabulosas com árvores de Natal impecavelmente decoradas a combinar com tudo, inclusive com as fatiotas das crianças.
Com imagens inacreditáveis de decorações de mesa, actividades em família que parecem saídas de um postal de Natal, tudo isto rodeado de sorrisos e maquilhagem perfeita.
Mas sejamos sinceros, quando é que estas famílias com crianças de qualquer idade têm tempo para estarem tão organizadas, terem a casa impecável e decorada como a capa de uma revista?
A resposta possível será que ou têm ajuda a tempo inteiro, ou possivelmente deixaram de fazer toda uma outra série de coisas como fazer os filhos dormir a sesta e seguirem a rotina, lavar roupa, estender e dobrar, e todas as tarefas invisíveis que nos levam tanto tempo. Isso ou descobriram os amiguinhos da Branca de Neve que aparecem quando ela canta para lhes arrumar a casa enquanto dormem! Por favor, passem o contacto!
Agora, fora de brincadeiras, a verdade é que não podemos fazer tudo - simplesmente não há horas suficientes no dia para tudo!
Por isso, esta é também a época de nos lembrarmos que emoções, estímulo, a interrupção das rotinas diárias, as viagens e os eventos sociais tendem a trazer ao de cima o que há de pior nas nossas crianças mais pequenas, e por vezes não só (não é o que há, é o que provocamos, mas isto será para outro artigo). Portanto, as festividades são um momento particularmente propício a que as nossas crianças estejam muitas vezes super estimuladas e ansiosas. Então, esta também é uma época para nos relembrarmos a toda a hora e em qualquer situação: o que está a criança a sentir neste momento, que nos está ela a comunicar. Como dizemos, comportamento é sempre comunicação!
Os primeiros anos são um período extremamente sensível, quando os sentidos das crianças funcionam muito, muito bem, e como tal, estão hiperactivados. E as crianças ainda não desenvolveram filtros (nós somos os seus filtros durante muitos, muitos anos) e, como tal, elas não conseguem não absorver toda a energia e estimulação do ambiente que as envolve. O que significa que todo o tipo de eventos, passeios e outras experiências que, aos olhos do adulto, podem ser maravilhosos e mágicos para a criança, podem ser intensos e até chegar ao ponto de se tornarem avassaladores. Por isso, sentimos que não podemos deixar de lembrar a todos os pais que não podemos medir o nível de conforto das crianças pelo nosso, devemos sempre considerar a perspectiva da criança, e cada criança é diferente, o que para um filho pode ser fantástico, para outro pode ser demasiado, e esta é a chave para minimizar o stress e a ansiedade, nesta época tão maravilhosa mas que muitas vezes se torna demasiado para todos os envolvidos, devido à sobrecarga que leva a birras, colapsos e muitas vezes a lágrimas, na época que deveria ser a mais maravilhosa do ano, como nos diz a canção.
Como em tudo quando se trata de crianças pequenas, nunca nos cansamos de lembrar que menos é mais. E sabemos que recusar certas festividades, encontros, rituais e visitas de prospecção para compra de presentes é difícil. Mas muitas vezes a resposta é mesmo simplificar. Por muito sentimento de culpa que tenhamos de não estar a responder a todas as solicitações desta quadra, a verdade é que o Natal vai desde o S. Martinho até ao dia de Reis e não há razão para querer encaixar tudo numa semana ou pouco mais.
Sabemos que isso é muito complicado quando se tem crianças pequenas e dias longos, mas como tudo, um pouco de planificação antecipada faz milagres. Temos apenas de mudar a perspectiva de que estamos a aumentar a época e a diminuir o stress, ou seja, não há como não gostar da ideia.
Estabelecer limites, criar novas tradições ou dizer não a certas solicitações pode ser assustador, ou mesmo parecer que estamos a privar as nossas crianças de determinadas experiências, mas, surpreendentemente, é precisamente o oposto. Estamos a focar-nos no que faz verdadeiramente sentido para as nossas crianças, para manter a paz e a harmonia tão falada nesta época, e isso pode até ser libertador.
E elas não têm de viver tudo nos primeiros anos de vida. A ansiedade é nossa, não delas. Elas não podem sentir falta de algo que não sabem que existe! Muitas destas experiências elas não terão memória nenhuma. Não será melhor guardá-las para quando elas as poderem apreciar verdadeiramente? Devemos sempre levantar a questão: Para quem estamos a fazê-lo? Para elas, para nós, ou para responder a um ideal passado por outros?
Nunca nos podemos esquecer é que não há nada que perturbe mais uma criança do que um adulto de referência stressado. O bem-estar da criança depende do nosso. Para isso, também temos de nos lembrar de nós mesmos. Esta é a decisão mais cuidadosa, para não dizer altruísta, a tomar em favor de todos os envolvidos, e quando vemos que temos mais em mãos do que podemos tratar, está na altura de delegar, pedir ajuda ou, pura e simplesmente, recusar.
O conselho que damos sempre é antes de qualquer decisão pensar: como vai ser esta experiência para a criança? Mas pensar como se fôssemos a criança e não com a nossa visão de adulto.
Lembrem-se que as crianças querem estar bem. Elas não gostam de se sentir mal, não querem fazer birras ou entrar em colapso em casa dos familiares ou no corredor do centro comercial. Quando estas situações surgem, a criança não está a querer manipular-nos ou a ser mimada, ou ingrata por não perceber a oportunidade que lhe estamos a proporcionar. Ela está pura e simplesmente a dizer-nos: isto é demasiado para mim; por favor, não estou a conseguir lidar com esta estimulação toda, leva-me para casa, ajuda-me a lidar com todas estas sensações que não sei nomear.
Por isso, repensem os vossos planos. Nos primeiros anos dos nossos filhos, peçam que seja a família a vir ter connosco, para a criança poder estar no seu espaço o mais possível, poder manter as suas rotinas, dentro do conseguido, e ser também mais fácil de nós reconhecermos os sinais que a criança nos está a dar, quando está a chegar a qualquer limite, seja sono, estímulo, ruído, etc. E quantas vezes não poderá ser também uma oportunidade de nós também termos uma bolha de oxigénio, no meio de todas as solicitações.
Esta também é a altura da vida dos nossos filhos que, se não temos tempo de fazer as compras espalhadas no tempo, aproveitemos estar na época das tecnologias e façamos as compras online. Sabemos que não é o mais ecológico e muitas vezes prejudica o pequeno comerciante, mas compensamos durante o resto do ano. Há sempre que ponderar o que é mais importante neste momento.
Outro aspecto que gostamos de lembrar é que acontecimentos da parte da tarde ou ao final do dia tendem a ser menos ideais para os mais pequenos, principalmente se a criança saltou a sesta ou teve um dia comprido. Aqueles jantares de sexta-feira ou similares são normalmente receitas para o desastre. Nestas situações, convém estar preparado para ter de sair a qualquer altura e, para isso, se aceitamos ou marcamos este tipo de eventos, deverão ser sempre com pessoas com quem estamos perfeitamente à vontade e que sabemos que não ficarão ofendidas se o final do encontro for interrompido prematuramente.
E devemos antecipadamente, com calma e naturalidade, informar a criança, com o maior detalhe possível, de todas as atividades e eventos: para onde vamos, quem estará lá, o que farão, a ordem dos eventos. Só este pré-evento pode funcionar como magia para centralizá-los mesmo nas situações mais estimulantes, dando-lhes a capacidade de previsão e sequência, o que lhes proporciona uma sensação de algum controlo sobre o sucedido.
E desejamos a todos uma tranquila e maravilhosa época natalícia!
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