As pedagogias ditas alternativas têm cada vez mais adeptos, o que a nosso ver, faz todo o sentido pois, cada vez mais a sociedade percebe que o modelo da educação tradicional de: "A mesma medida serve para todos", na realidade não serve há grande maioria.
E a verdade é que os líderes educacionais há muito que já reconheceram a importância de abordagens de aprendizagem personalizadas e o valor de vários caminhos, no entanto, no nosso país este caminho tem sido lento e, a maioria do ensino dito alternativo, tem a maioria da sua oferta no privado, mas começamos a ver no ensino público cada vez mais adeptos.
Por isso, cada vez mais, uma busca de um espaço pré-escolar, pode tornar-se um momento de confusão e incertezas para muitos pais. É muito difícil aos pais terem tempo para identificar um programa e currículo que melhor se adapte ao seu estilo de parentalidade e ao seu filho. Cada criança é diferente, e há uma variedade de abordagens curriculares diferentes para escolher. Como saber, quais as verdadeiras diferenças e semelhanças?
Uma das maiores confusões que temos visto é identificar como iguais pedagogia Montessori e pedagogia Waldorf. A verdade é que hoje encontramos muitos espaços que se identificam como inspirados em ambas mas, apesar de parecerem muito semelhantes, na realidade estas pedagogias não o são.
Por isso deixamo-vos aqui uma explicação e comparação dessas duas filosofias: Waldorf e Montessori, aqui apresentadas com base na nossa experiência pessoal, como educadoras e estudantes de educação. Mas, gostaríamos de enfatizar que, podem haver muitas diferenças de sala para sala, de escola para escola, em qualquer das filosofias, devido ao estilo e à interpretação de cada educador ou cuidador.
E, embora a criança seja vista com grande respeito e reverência em ambas as filosofias, existem várias áreas de contraste entre Waldorf e Montessori, incluindo a abordagem ao brincar, à fantasia, aos brinquedos, ao desenvolvimento individual e social, estrutura e ordem e intelectualização. Temos duas pedagogias em que os seus movimentos são como um padrão de simetrias inversas.
A pedagogia Montessori é conhecida pela Educação para a Paz, a Waldorf como a Filosofia para a Liberdade.
A abordagem Montessori foi desenvolvida por Maria Montessori em Roma no início de 1900. A dr. Maria Montessori, a primeira médica de Itália, abriu a Casa dei Bambini (Casa da Criança) para oferecer educação a crianças de baixos rendimentos em Roma.
A pedagogia Waldorf é baseada na filosofia educacional de Rudolf Steiner, educador austríaco e criador da antroposofia. A primeira escola abriu em 1919 em Estugarda, na Alemanha, para os filhos dos funcionários da Waldorf-Astoria Company; as suas escolas, a partir de então, ficaram conhecidas como escolas “Waldorf”.
Os espaços Waldorf são geralmente locais onde predomina a madeira. Os móveis muitas vezes têm formas arredondadas que lembram as formas da natureza. São lugares minimalistas, com apenas os elementos necessários. Os espaços são geralmente muito acolhedores, recolhendo elementos da natureza típicos da área em que estão localizados, e com cores suaves e calorosas.
A madeira predomina e o plástico e a tecnologia são evitados. Alguns materiais são criados pelos cuidadores ou pelas próprias crianças, incentivando assim a sua criatividade. Os elementos que promovem o brincar aberto também são os favoritos.
O espaço Montessori é projetado por áreas. Algumas áreas são propícias para atividades em grupo, mas a maioria é para trabalho individual. São usadas mesas e o chão para trabalhar. Usam tapetes ou bandejas para apresentar os materiais preparados pelo educador/guia, organizados na frente das crianças. A ideia é promover autonomia, ordem e limpeza. São materiais pensados para a criança se auto-corrigir, para que aprenda com seus próprios erros.
Na pedagogia Montessori, há uma crença de que as crianças pequenas têm dificuldade em distinguir entre realidade e fantasia e, portanto, a fantasia deve ser adiada até que a criança esteja firmemente assente na realidade. As tarefas e atividades que as crianças fazem são então todas orientadas para a realidade.
Maria Montessori costumava dizer que é um erro as crianças se divertirem com brinquedos, porque segundo ela, elas não são capazes de ter realmente interesse pelos brinquedos durante muito tempo, se não houver um interesse verdadeiro intelectual para associá-los a tamanhos e números.
Por isso na pedagogia Montessori, cada material de manipulação está voltada para um conceito específico de aprendizagem e tem um procedimento passo a passo para ser usado. Embora Montessori atribua grande importância ao brincar livre e não estruturado, os materiais são apresentados pelo guia de forma determinada e rigorosa. Eles têm sempre um propósito e objetivos claros. Além disso, são auto-corretivos.
Muitas vezes, os educadores numa escola Montessori tendem a permanecer com a turma por vários anos, permitindo relações próximas entre adulto e a criança. E as salas num programa Montessori, geralmente não são organizadas por idade. Em vez disso, elas são organizados por habilidade e pelo nível em que a criança é capaz de trabalhar.
Rudolph Steiner, o fundador da abordagem Waldorf, afirmou que “a educação Waldorf não é um sistema pedagógico, mas uma arte – a arte de despertar o que realmente existe dentro do ser humano”. E se um espaço se denomina uma 'Escola Waldorf', ele permanece fiel à abordagem Waldorf original, pois cada escola e educador/professor Waldorf deve ser certificado dentro do mesmo currículo geral.
Na filosofia Waldorf, o brincar é visto como o trabalho de uma criança, a magia da fantasia, que está tão viva em cada criança, que é parte integrante do caminho que o adulto partilha com ela.
As histórias e a fantasia são então parte integrante do currículo. Quase todos os materiais são desestruturados ou naturais e abertos, ou seja, não têm finalidade, apenas estão ali para desenvolver a sua criatividade. Na pedagogia Waldorf é essencial perceber o valor que têm os brinquedos no ajudar as crianças a recriar as experiências de vida como elas realmente acontecem. Quanto menos completo e mais sugestivo é o brinquedo, maior o valor educativo, pois enriquecerá a vida imaginativa da criança. Portanto, os brinquedos de um jardim de infância Waldorf podem ser por exemplo troncos de árvores, conchas, tecidos de seda coloridos ou algodão, blocos de madeira para construção, bonecas de pano com um rosto não definido. Tudo isto para permitir um brincar aberto e imaginativo.
Como Piaget disse: "Brincar é a resposta ao como qualquer coisa nova surge.”
Nas salas Montessori, grande parte do trabalho da criança é focado em tarefas individuais, realizadas separadamente. Cada criança trabalha, como já dissemos de forma independente num pequeno tapete ou tabuleiro, fazendo uma tarefa diferente das outras crianças. Apenas o educador/guia, como facilitador, pode intervir se a criança solicitar ajuda. A socialização ocorre então: no não incomodar as outras crianças que trabalham, no ajudar uma criança mais nova a aprender a fazer uma nova tarefa, ou no esperar a sua vez se a criança quiser uma atividade que já esteja a ser usada por outra.
Na pedagogia Waldorf enfatiza-se que a criança gradualmente aprende a ser um ser social, e que o desenvolvimento da criança pequena na esfera social é tão importante quanto qualquer outra coisa que fazemos. O educador tem o papel de orquestrar como isso acontece - através do modelar um bom comportamento social com as crianças, através da participação em atividades de movimento, canto ou jogos para desenvolver a consciência de grupo e ajudar as crianças a trabalhar humanisticamente com as divergências.
Matemática, pré-leitura ou escrita, etc., não são ensinadas implicitamente na pedagogia Waldorf até aos 6/7 anos de idade. No entanto, a pedagogia Montessori começa a trabalhar com estes conceitos, desde que a criança se interesse, a partir dos 3 anos ou até mais cedo, sendo isto feito através de materiais do campo sensorial.
A pedagogia Waldorf, divide os estágios de desenvolvimento em 7 anos (septénios).
O primeiro é o BOM, desde antes do nascimento até os 7 anos de idade, onde o foco é que o mundo seja um bom lugar para se viver. Aqui dá-se especial importância há sub-fase dos 0 aos três anos, onde a criança aprende a andar, falar e pensar, que é a fase fundamental para o desenvolvimento físico.
A Partir dos 7 anos, Steiner fala sobre estimular a imaginação e aqui é O BELO. Nesta fase é quando se inicia a aprendizagem mais cognitiva.
A VERDADE é a fase a partir dos 14 anos até aos 21, o foco é conhecer a verdade do mundo. Para fazer isso, o aluno conta com a sua experiência, raciocínio e julgamento. Ou seja, com um método científico de pensamento crítico.
No caso da pedagogia Montessori, segundo a autora, as crianças passam por 4 períodos evolutivos desde a infância até a idade adulta, que ela chama de “planos de desenvolvimento”.
O primeiro plano vai do nascimento aos 6 anos, a que chama A MENTE ABSORVENTE, subdividida em duas etapas: de 0 a 3 e de 3 a 6 anos. O segundo chama-se A MENTE DE RACIOCÍNIO Dos 6 aos 12 anos, divididos em duas etapas também de três anos cada. Seguida da MENTE HUMANISTA, dos 12 aos 18 anos, coincidindo com a puberdade. E por fim A MENTE ESPECIALIZADA, que inclui o quarto plano de desenvolvimento dos 18 aos 24 anos, quando o ser humano conhece a maturidade.
Maria Montessori descreveu a sala da infância como um lugar onde as crianças são livres para se movimentar à vontade, onde o dia não é dividido entre períodos de trabalho e períodos de descanso ou lazer. As crianças são livres de escolher as suas próprias atividades na sala. Essa proteção da escolha da criança é um elemento-chave no método Montessori.
Em contraste, na pedagogia Waldorf envolvemos a criança numa atmosfera rítmica – em que a criança sabe com o que pode contar dia a dia, semana a semana. Há momentos para se reunir e estar como grupo, momentos para brincar individualmente ou com amigos, momentos para atividades direcionadas, como a preparação de materiais para alguma festividade, fazer pão ou pintura, e momentos para brincadeiras criativas (como representar uma história através do movimento, fazer jogos de dedos , assistir a um espetáculo de marionetes). O educador/cuidador Waldorf trabalha com os ritmos e temas sazonais, ligando atividades artísticas, histórias, canções e versos para alimentar e incentivar o interesse e a imaginação das crianças.
Tanto na pedagogia Waldorf quanto na Montessori é reconhecido que a criança anseia por ritmo e ordem no seu mundo, e ambas sentem que o ambiente físico precisa de uma ordem subjacente para ajudar a criança a se sentir segura. Mas as duas filosofias interpretam-no de maneiras bem diferentes:
- na pedagogia Montessori enfatiza-se a realidade para libertar a criança das suas fantasias;
- na pedagogia Waldorf aumenta-se o mundo da fantasia e imaginação da criança para estimular a brincadeira da criança.
Na pedagogia Montessori vê-se a criança como tendo uma mente absorvente, pronta para absorver conhecimento e experiência como uma esponja, a teoria é que, ao fornecer a uma criança tarefas intelectuais cada vez mais desafiadoras desde cedo, acabaremos com uma criança educada.
A pedagogia Waldorf não acredita que esta seja a maneira mais saudável de abordar a educação de crianças pequenas. Em vez de introduzir um foco intelectual inicial, procura nutrir e manter viva uma imaginação saudável e os poderes de pensamento criativo da criança. O potencial intelectual da criança está dentro dela e desdobra-se lentamente, como as pétalas de uma flor, à medida que a criança passa de uma fase de desenvolvimento para a seguinte.
A educação Waldorf introduz as perguntas para que a criança possa gerar pessoalmente as suas buscas que levarão às suas respostas e, só posteriormente, lhe mostra o que a cultura desenvolveu.
A educação montessoriana convida a criança a reverenciar primeiro as respostas, as maravilhas dos feitos culturais humanos, e só depois a explorar por si.
Os educadores Montessori referem-se mais a materiais, ambiente, estrutura, construção, exercício lúdico, conceitos, especificidade, ordem e praticabilidade.
Os educadores Waldorf referem-se mais a processos delicados, essência, especificidades, ritmo, elementos do sentimento, contexto, imaginação e beleza.
Montessori oferece o gesto da inculturação como a esperança última de que as crianças assim nutridas saiam capazes de trazer a paz ao mundo.
Steiner propôs uma abordagem interior como esperança última de que as crianças assim nutridas saíssem em liberdade para contribuir para o desenvolvimento posterior da cultura.
Ambos os caminhos são brilhantes, cheios de compaixão e têm como mote o honrar a criança.
Mais uma vez Educa_São!
“Só podemos ajudar o homem se ajudarmos a criança a se adaptar melhor ao futuro da civilização. ”
"A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para as suas vidas."
NOTA: Todas as fotografias aqui são retiradas da internet e de uso público.
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