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Entrevista com uma mãe de uma criança Orquídea

Atualizado: 1 de dez. de 2020

Tracy Cassels, Ph.D, palestrante no Raised Good Online Summit


Orquídeas


" Se já sabe que tem uma (criança orquídea), saberá porque é que eu costumo alertar as famílias para "colocarem o cinto de segurança pois vão iniciar uma viagem".

Porquê?


Porque estas crianças não são exactamente como as outras crianças que vemos por aí e talvez até nem mesmo como outras crianças que tenhamos criado/educado. E às vezes não conseguimos deixar de nos perguntar o que é que eu fiz exactamente (errado?) Que possa ter tornado as coisas tão terrivelmente difíceis... mas ao mesmo tempo tão gratificantes.


Como podem estas crianças entrar em colapso num segundo mas podem também ser as crianças mais felizes e equilibradas que conhecemos?


Esta é apenas uma das muitas complexidades da criança orquídea, e a razão do ser pai de uma destas crianças ser algo que as pessoas realmente não entendem, a menos que elas tenham a mesma experiência.

É por isso que todos os conselhos que as pessoas nos dão não só não funcionam, mas nós sabemos quase imediatamente que não vão funcionar.


Deixá-la chorar que isso passa? Sabemos de todo o coração que não só o nosso filho não dormiria melhor, mas como provavelmente nunca mais pararia de chorar.


Punição/ castigo? Tentamos e isto parece devastar o nosso filho de uma forma que não nos sentimos confortáveis.


“Largar” na creche? Dizem que meu filho se irá adaptar, mas já se passaram meses e ainda estamos na fase do choro e o meu filho agarra-se a mim como se sua vida dependesse disso, a menos que eu esteja lá por um longo tempo antes de partir.


Estas são apenas algumas das coisas normais que os pais de orquídeas vivenciam e muitos fazem-se a mesma pergunta: O que é que eu fiz (de errado)?


A resposta? NADA!


Bem, talvez não seja verdadeiramente “nada”, mas pelo menos nada de errado, embora a educação dos filhos possa ser a partir de agora muito mais difícil. Muitas pessoas que têm um filho orquídea realmente não entendem o que isso significa para a criança, ou para elas como pais.

Como demos à luz uma criança que podemos ajudar a prosperar ou a ruir de uma forma que a maioria dos outros pais nunca experimentará, é fundamental que saibamos o que isto significa para nós e para o nosso filho daqui para frente.


Como a maioria dos pais de orquídeas, não foi avisada(o) que esta seria uma possibilidade e, provavelmente percebeu sozinha(o) que o seu filho é diferente dos outros, mas no entanto continua a receber as mesmas informações e ferramentas que os outros pais, e que não se ajustam ao seu filho, a questão para muitos de nós (que nos encontramos nesta situação) é o que fazer a este respeito.


Acredito que há três mensagens principais que precisamos guardar em nós, como pais, à medida que identificamos as especificidades que enfrentamos com as nossas orquídeas. (E para ser totalmente transparente: eu mesma estou a criar uma criança orquídea - assim como a Tracy, a fundadora da Raised Good - estamos contigo!)


MENSAGEM # 1: “ SUFICIENTEMENTE BOM” NÃO É NECESSARIAMENTE SUFICIENTE


Esta é a mensagem mais difícil de partilhar porque é a mais difícil de receber, mas para as nossas orquídeas, às vezes "bom o suficiente" não é realmente suficiente. Na verdade, li artigos de pessoas que dizem que, desde que não abusemos dos nossos filhos ou os negligenciemos, até as orquídeas se desenvolvem perfeitamente. O problema é que a pesquisa realmente não confirma isso.


Elas são tão sensíveis aos seus ambientes que devemos estar muito mais atentos que os outros pais e servir de escudo protector/abafador se necessário.


Por vezes, "bom o suficiente" é suficientemente bom, mas isso é porque o ambiente que rodeia a criança é tão bom que não necessitamos de ultrapassá-lo para ajudá-la a desenvolver-se. No entanto, o nosso filho pode ter dificuldades na creche, na escola, num determinado espaço, loja, etc, onde se sente stressado, e neste casos provavelmente necessitaremos de ser melhores do que suficientemente bons, para neutralizar os elementos negativos específicos destes ambientes que podem causar um grande dano.


Isto não significa que não vamos cometer erros - todos nós vamos -, mas apenas temos que aprender com eles um pouco mais rápido e aprender a responder da maneira certa a uma orquídea.

Eu acredito que o que faz a maior diferença no bem estar das orquídeas não é o nunca cometer um erro, mas o como respondemos a estes erros. Ignorá-los ou tentar disfarça-los está muito longe de ser "bom o suficiente" para elas.


MENSAGEM # 2: TEMOS QUE TRABALHAR EM NÓS MESMOS


As lutas do dia-a-dia que enfrentaremos com uma orquídea podem parecer totalmente opressoras e precisamos de ter certeza de que estamos a encontrar as melhores soluções. Se não tivermos, provavelmente seremos vítimas das “rasteiras” que resultarão numa educação infantil abaixo do ideal, o que necessitamos minimizar.

Na verdade, como as nossas orquídeas são das crianças com maiores necessidades, com algumas das emoções e reações mais exarcebadas, elas podem trazer ao de cima o pior de nós, muito mais do que acontece com outros pais e correremos o risco de passar muito tempo numa zona subóptima.


Parece um tanto injusto que os pais que precisam de mais margem de manobra devido às dificuldades inerentes que enfrentam, sejam aqueles que a menos têm.


Tudo o que possamos fazer para permanecer calmos, presentes e conscientes é fundamental.

Muitos pais encontram no Mindfulness ou na meditação uma ajuda preciosa. Admito que não estou a fazer nenhuma das duas activamente mas sinto que falar em voz alta sobre meu processo de tomada de consciência é bastante útil (um tipo “conversa interna” como ferramenta que pode até ser considerada um pouco de mindfulness). Também admito os meus erros àqueles em quem confio, para poder retirar isso do meu peito, perdoar-me e, então, estar mentalmente pronta para aprender.


Talvez a ferramenta mais eficaz que tenho é simplesmente ficar tranquia até que tudo esteja calmo. Se eu conseguir ficar tranquila, o meu coração e cérebro terão tempo para voltar a sincronizar-se e a minha resposta será sempre mais apropriada e refletirá melhor as necessidades do meu filho no momento, do que quando acidentalmente falo/reajo cedo demais.

Agora, devo acrescentar que só porque não estou a verbalizar, não significa que não esteja lá. Estou fisicamente presente, mas verbalmente fico quieta.


MENSAGEM # 3: NUNCA É TARDE DEMAIS


Uma das coisas mais animadoras que vi na pesquisa é que, embora os primeiros anos sejam cruciais em muitos aspectos, nem tudo é uma causa perdida se não formos o tipo de pais que uma orquídea precisava ter.


Qualquer que seja a fase, se a conseguirmos melhorar isso beneficiará as nossas orquídeas. O mais difícil, quando agimos tardiamente, é que geralmente esperamos que seja um processo rápido, porque queremos que esses tempos difíceis terminem, mas na realidade o processo vai demorar mais até se verem os efeitos positivos.


Quanto mais desenvolvida está uma criança, mais difícil é a mudança e, se existirem episódios negativos, pode ser ainda mais difícil.


Pense nisto como se tivesse iniciado o caminho com meio tanque de gasolina e não soubesse que deveria abastecer o carro. Eventualmente ficamos com o tanque quase vazio. Primeiro teremos que enchê-lo até a metade antes de se chegar ao tanque cheio. Isso é o que acontece quando mudamos um ambiente - temos que voltar do negativo para a linha de base antes de podermos criar o positivo e isso leva tempo. Mas eu prometo, vale a pena.


Embora seja difícil criar uma orquídea, não é impossível se podermos manter estas mensagens em mente. Podemos nunca vir a seguir o mesmo caminho que aqueles que não têm orquídeas seguem, mas tudo bem, porque não é isso que nossos filhos precisam de nós.




Sobre a autora: Tracy Cassels, PhD, é directora da Evolutionary Parenting, uma plataforma que fundou em 2011 após o nascimento de sua filha Maddy. Ela tem um B.A. em Ciências Cognitivas pela University of California, Berkeley, um M.A. em Psicologia Clínica pela University of British Columbia, e um Ph.D. em Psicologia do Desenvolvimento, também pela University of British Columbia.

Tracy oferece vários cursos, incluindo Raising Orchids (um curso sobre crianças altamente sensíveis).

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