Pais em teletrabalho, crianças pequenas em casa, escola em casa, eis um cenário que se tornou comum nos dias que correm em todo o mundo.
Muitos pais tentam encontrar estratégias como acordar muito mais cedo, antes dos filhos para poderem trabalhar algumas horas enquanto a casa ainda está silenciosa, e outros muitas vezes trabalham até tarde, durante a noite, depois das crianças irem para a cama. Como muitos pais, o stress e a exaustão estão a começar a pesar, tanto mental quanto fisicamente, e perguntamo-
nos a longo prazo o que sucederá?
Alguns pais nesta situação já deixaram as coisas "descambar", começando a permitir às crianças muito mais tempo de ecrãs do que gostariam e recorrendo a muitas mais refeições pré-cozinhadas do que o que consideram saudável, e a lista continua por aí fora. Tudo para tentar aliviar a situação e manter a sanidade.
Alguma coisa tinha de ceder, não te culpabilizes, somos apenas humanos!
Trabalho, escola em casa e muito mais, é natural a ansiedade de nós pais estar em alta, e o pior, como já dissémos é que as crianças detectam esse stress de maneiras subtis, como no nosso tom de voz e gestos. Como elas não sabem como controlar o seu medo ou ansiedade, muitas vezes estes podem manifestar-se nas temidas discussões entre irmãos.
E como lidar com esta situação, no meio de todo o caos que já nos envolve?
A primeira coisa a lembrar é que as crianças não entram em rivalidade tanto uma com a outra, como por nós pais ( ou seja para chamar a atenção de um dos pais, ou ambos). Portanto o melhor seria não intervir, a maioria das vezes. Mas a verdade é que muitas vezes isso não é possivél. Então o que fazer?
Ao intervir devemos tentar intervir o mais tarde que nos parecer razoavel, e tenta ter em conta os sentimentos de ambas as crianças.
Ou seja... Nunca tomar partidos!
O problema da rivalidade de irmãos resume-se a que o pai/mãe tem um "favorito", o que é perfeitamente normal e humano, temos sempre tendência a identificarmo-nos com aqueles mais semelhantes a nós. Se o fazemos com estranhos, claro que o fazemos com os mais próximos! Muitas vezes é completamente inconsciente. Pois está na hora de tentar trazê-lo à consciência, pois essa é na maioria das vezes a razão da disputa. Mas mais uma vez repetimos, não se culpabilizem, não quer dizer que amem mais um que o(s) outro(s), de certeza que os amam de forma igual, é simplesmente a nossa humanidade a revelar-se!
Portanto ficamos a saber que é muito natural ou identificarmo-nos com o mais "fraco" ou com aquele que mais se assemelhe a nós. E consciente ou inconscientemente favorecemos um e nesse momento tornamo-nos em árbitros ou juízes. E aí estamos a prepararmo-nos para o desastre...
A solução?
Visto que ambos participam na disputa, ambos recebem o mesmo tratamento, ambos recebem a conversa da "resolução de conflitos", ambos são afastados da actividade, ambos "sofrerão", apesar de um ser o "instigador" e o outro a "vítima" ( segundo a nossa visão de adultos).
O que sucede é que se agirmos deste modo, com o passar do tempo, estabelecemos um padrão em que ambos se assumem como participantes e parte da solução.
O que não nos podemos esquecer é que o problema não vai pura e simplesmente desaparecer só porque resolvemos esta disputa, este é um processo contínuo. É uma rivalidade pela nossa atenção, por isso tentamos intervir o menos possivel, a não ser que tenhamos mesmo de o fazer ( na eminência de haver sangue... por exemplo! ) pois, se não alimentarmos a fonte da disputa ajudamos a que esta seque.
Mas como já dissémos se vemos que temos de intervir então nunca tomamos partidos, e é importante analisarmos a nossa "agenda", do porque é que favorecemos um em detrimento do outro. Isso pode nos ajudar a perceber a causa da disputa. Quanto menor carga emocional levarmos para a disputa melhor!
Qual o problema de tomarmos um "partido"?
Se uma criança é identificada como a vítima e a outra como a causadora, a vítima terá toda a atenção e será sempre a vítima, o inverso igual, se for sempre a mesma a causadora, esta assumirá sempre esse papel e entramos num ciclo vicioso!
Daí a importância de decidir que ambos têm o mesmo tratamento, é mesmo fundamental, tal como que ambos empatizem um com o outro e partilhem os seus sentimentos e experi
ências, mas atenção às idades e às expectativas, quando eles não o conseguem verbalizar teremos de os ajudar a fazer mas sempre de forma igual para ambas as partes!
Pois no final do dia, todas as crianças têm de aprender a resolver as suas questões. Nós não estaremos lá sempre para o fazer e não é esse o nosso papel. Principalmente depois dos 7 anos ( idade escolar), todas as crianças terão de ser elas a resolver os seus conflitos. Daí a importância de encontrar estratégias para entender o problema e tentar que resolvam o assunto por si, temos de lhes fornecer essa caixa de ferramentas para o futuro. Se todas as nossas crianças tiverem estas ferramentas deixaremos de ter os chamados bullies (os instigadores) e vítimas, tudo parte dos papeis que damos à nossas crianças.
Claro que em se tratando de bebés temos sempre de proteger os bebés, estes estão longe de se poderem defender, e em crianças mais pequenas a solução é sempre afastá-los da situação pois a sua capacidade de auto-regulação emocional ainda está numa fase inicial. Portanto o fundamental é afasta-los da situação e sugerir alternativas, tal como ajudar a expressar os seus sentimentos: -" sim eu sei que é muito dificíl, triste, frustante...etc", não tentar resolver ou mitigar, apenas deixá-los sentir.
Só ao sentirmos as nossas emoções poderemos aprender a reconhecê-las e a lidar com elas.
O importante nestas situações é percebermos que temos de tentar largar o papel de controlador e passar para um de guia, de forma a deixá-las encontrar a sua justiça e a sentir as suas emoções.
A partir do dia que temos mais de um filho, próximos ou distantes de idade, a rivalidade de irmãos vai existir.
E vai melhorar ou piorar ao longo da vida, mas em muito esse desenlace vai depender, de nós como pais, e de como lidámos com a situação!
Adorei o texto. Tenho ouvido muitas queixas relacionadas com este problema, infelizmente, tão actual. Oxalá o texto chegue à quem tem necessidade de o ler.
Texto muito bom!!! Parabéns! E não podia ser mais atual🌈 boas dicas☀️