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Celebrar as épocas do ano: a Primavera e a Páscoa.

Atualizado: 10 de jan.


E chegou a Primavera e com ela a Páscoa!

Depois do rigoroso inverno e de estarmos confinados em casa mais uns tempos, não havia melhor altura para sairmos das nossas tocas. O sol e o calor começam a aparecer e os dias a ficarem mais longos.

Esta época é marcada por fortes imagens, e são através delas que as crianças a vivenciam, e nós também.


O renascimento da natureza, transformação, as cores e as flores desabrocham, as borboletas começam a voar e os animais, que andaram desaparecidos, começam a aparecer. É a morte a transformar-se novamente em vida. É tempo demudança, de renascermos interiormente, de andarmos mais alegres e felizes.


A Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia, do equinócio da primavera. É sempre comemorada ao domingo, que é o dia do sol.


A palavra Páscoa, vem do hebraico, Pessach, que significa passagem. Passagem esta que é a mudança de uma forma de viver, para o renascer de uma nova forma. É um renascimento interior, que usa como ferramenta de transformação, o amor.

Na tradição cristã, a Páscoa ocupa uma importância fundamental. Após os quarenta dias da quaresma, e depois de refletir sobre os acontecimentos vivenciados por Jesus Cristo durante a Semana Santa, (Domingo de ramos, condenação da figueira, encontro com adversários no templo, unção, Santa Ceia e lava pés, morte, descida ao reino dos mortos e ressurreição), os cristãos comemoram, no domingo de Páscoa, a glória da ressurreição de Cristo.


Com a sua paixão, morte e ressurreição, Cristo deixou-nos o precioso legado de uma nova vida após a morte. Diante desta consciência, o Homem pode refletir sobre as nossas atitudes perante a Terra.

Os principais símbolos e imagens que são utilizadoss nesta linda festa, são:


🐇A lebre branca, que representa proliferação, crescimento e pureza. Este animal pode viver em qualquer lugar, o mundo é sua casa. A lebre tem o altruísmo de se sacrificar pela outra, quando uma está a ser perseguida, outra pode se sacrificar e morrer por outra e isso acontece de forma inconsciente e instintiva. Ela está em constante movimento, não faz mal ao outro, mesmo sendo ameaçada, não se defende, apenas foge e corre.


🥚O ovo, outro símbolo desta época, representa a vida, a imortalidade e a eternidade, o renascer da natureza.


🐛🦋Outra imagem, que claramente mostra a ideia de vida, morte e ressurreição é a metamorfose da lagarta em borboleta, representando a morte do corpo, a transformação e o renascer. A imagem arquetípica da borboleta que, quando lagarta, fecha-se num escuro casulo deixando a luz e o calor transformarem a sua existência em cor e leveza.

A Árvore da Páscoa é o símbolo de toda a transformação, da semente ao fruto, tornando-se semente novamente, fechando assim o ciclo da vida. Muitas vezes é feita com um galho seco, aparentemente “morto”, que irá desabrochar ao longo das semanas. Nessa árvore é onde também são pendurados os ovos.

A coroa da Páscoa simboliza o todo, sermos unos com os demais, a procura do melhor para mim e para os outros, representa o sacrifício de servir, a ausência de orgulho e vaidade. Esta coroa também, muitas vezes, tem os ovos que as crianças pintaram pendurados.

A Páscoa, espiritualmente, leva-nos à possibilidade de deixarmos morrer em nós o que não queremos mais, o que já não nos serve, e permitir que o novo possa florescer. Ajuda-nos a ter claro, dentro de nós, a possibilidade da vida, morte e ressurreição de hábitos, atitudes e modos de pensar, para nos tornarmos pessoas melhores. Se cada um realizar este exercício interior, poderemos então resgatar o real sentido da Páscoa.


E o que podemos fazer com as nossas crianças para se festejar a Pascoa?

Fazemos coisas simples e que nos ajudam a entrar no espírito da Páscoa.



  • Começamos, umas 3 semanas antes, a plantar trigo em pequenas sementeiras, e também vários tipos de bolbos, que já estarão desabrochados na altura da festa, e nos darão cor. As crianças vão cuidando, regando, colocando ao sol e observando o ciclo da planta.

  • Jogamos um jogo tradicional do Açores, chamado Belamente. Este jogo é muito simples e toda a família pode jogar, todos os dias de manhã e até à véspera da Páscoa, na primeira vez que nos vemos, não vale nos quartos nem na cama, o primeiro a dizer belamente ganha um ponto e assim sucessivamente. Claro que quem tiver mais pontos ganha e recebe um prémio que foi determinado antes do jogo começar.

  • Sopramos os ovos e pintamos as suas cascas, é uma aventura! Quanto mais claras as cascas dos ovos, mais bonitos ficam. Podem pintar de diversas maneiras, ficam sempre lindos e as crianças adoram.


  • Decoramos a casa com os ovos pintados, não só com os que fizermos este ano, mas também com os dos anos anteriores, e também fazemos umas pequenas lebres, umas em malha, outras em lã feltrada, outras são compradas e de vidro…

  • Também, ainda 3 semanas antes, contamos a História da Lebre da Páscoa, as crianças adoram. Cantamos músicas com lebres e coelhos, e temas de primavera, e também jogos de dedos alusivos à época. É uma época cheia de cor e de alegria.

Começa a época dos piqueniques, e dos grandes passeios pela natureza, observando toda a transformação ao nosso redor, as plantas, as árvores e animais.


Na véspera do dia da Festa da Páscoa, ou no mesmo dia, fazemos sempre um folar e pão doce com ovos cozidos, para partilharmos com os nossos vizinhos, e comermos no dia.

Chegou o grande dia! Já vimos a lebre passar por nós, muitas vezes… Às vezes deixa-nos ovos, outras vezes só vimos os seus rabinhos ou orelhas. É dia da caça aos ovos!



Um adulto encarrega-se de esconder os ovos sem que as crianças se apercebam, e depois alguém grita com entusiasmo: “Olha a lebre, olha a lebre!”. Pegam nos seus cestos, e lá vamos nós procurar os lindos e deliciosos ovos. Podem ser ovos cozidos, para aqueles que não comem chocolate. Na nossa escola fazemos uns de tâmaras e figo.


Esta caça aos ovos quer nos lembrar, que é preciso ativar e cultivar a nossa vontade. À criança procurar os ovos da páscoa, dá-lhes um enorme prazer. Este procurar e

encontrar alegre, é a expressão de um esforço interior que o adulto realiza no

pensamento, e de procura correta de um caminho com sentido na vida.

Para terminar este grande dia de festa, contamos novamente a História da Lebre da Páscoa, desta vez para todos partilharmos o folar ao lanche, e atacarmos os prémios da nossa caça.


Espero que se divirtam, tanto quanto nós, neste dia sempre cheio de luz e alegria.





















A Verdadeira Lebre da Páscoa



Era uma vez um pai lebre e uma mãe lebre que tinham sete filhinhos. Como estava a chegar a páscoa, o pai pediu que a mãe arranjasse uma cesta com bastantes ovos coloridos, para que cada uma das lebrezinhas os escondesse. Assim, saberiam qual delas era a verdadeira lebre da páscoa.


A primeira escolheu o ovo dourado. Saiu a correr o mais rápido que podia e, ao chegar no jardim da escola onde deveria esconder o ovo, viu-se diante de um grande portão. Como vinha a correr com grande velocidade, não conseguiu preparar o pulo e tropeçou, caiu do outro lado, o ovo caiu e partiu-se. Esta não era a verdadeira lebre da páscoa.


A segunda escolheu o ovo vermelho e pôs-se a caminho da escola. Quando passava pelo campo, encontrou uma lebre amiga que a convidou pra brincar. De início a lebrezinha não quis, pois precisava de ir esconder o ovo. Mas a outra insistiu tanto que ela concordou e pôs o seu ovo num cantinho. Brincou muito, correu e pulou. Quando a lebre se lembrou do ovo este estava quebrado. Esta também não era a verdadeira lebre da Páscoa.


A terceira escolheu o ovo prateado. A caminho da escola, encontrou a raposa. Esta, ao ver o ovo, pediu-o, mas a lebre não quis lho dar. “Eu dou-te uma moeda de ouro em troca” – disse a raposa. A lebre não resistiu e aceitou a troca, indo com a raposa até a sua toca. Lá a raposa pegou no ovo e levou-o para dentro. A raposa saiu com cara feia, sem moeda alguma e ainda disse que a comeria se eles não se fosse embora. Este não era a verdadeira lebre da Páscoa.


A quarta escolheu o ovo verde. Ao passar pela floresta, um pássaro começou a gritar “A raposa está aí”. A lebre quis enconder o ovo para a raposa não o levar. O pássaro ofereceu-se para esconde-lo no seu ninho no alto da árvore. Porém, a raposa não apareceu e o coelho pediu o ovo de volta, mas o pássaro disse-lhe que ela teria de ir busca-lo ao seu ninho. Esta também não era a verdadeira lebre da Páscoa.


A quinta escolheu o ovo às pintas. Ao passar pela ponte sobre o rio, olhou para baixo e viu a sua imagem refletida na água. Ficou tão maravilhada com a sua beleza que se debruçou, cada vez mais, até que o ovo caiu e se espatifou nas pedras do rio. Esta também não era a verdadeira lebre da páscoa.

A sexta pegou no ovo de chocolate e, ao passar pela floresta, encontrou o esquilo, que lho pediu. A lebre não quis dar, mas o esquilo pediu se ao menos poderia dar uma lambidela só para provar. A lebre então permitiu e também deu uma lambidela só para provar, até que o ovo acabou. Está também não era a verdadeira lebre da Páscoa!


A sétima escolheu o ovo azul e passou pelo campo, mas não brincou com a lebre amiga, encontrou a raposa e não trocou o ovo, não ligou ao pássaro que dizia que a raposa vinha, passou sobre a ponte e não olhou para o rio, encontrou o esquilo e não o deixou provar o ovo e, ao chegar diante do portão da escola, olhou-o bem e deu o pulo certo. Na escola, escondeu o ovinho sem ser visto pelas crianças e voltou para sua casa. Esta sim era a verdadeira lebre da Páscoa!





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